“No enxame: perspectivas do digital” é um livro do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han onde o autor explora a dinâmica contemporânea da sociedade em relação à cultura digital e à tecnologia.
Han argumenta que, ao contrário da era disciplinar do passado, em que as pessoas eram controladas por forças externas, vivemos agora na era do “enxame”, onde os indivíduos se autocontrolam. O termo “enxame” é usado para descrever a forma como as pessoas se comportam na era digital, como um enxame de abelhas sem um líder centralizado.
Ele descreve como a tecnologia digital e as mídias sociais têm contribuído para uma sociedade de vigilância autoimposta, em que as pessoas estão constantemente se mostrando, compartilhando suas vidas, opiniões e dados pessoais. Isso leva a uma busca incessante por reconhecimento social e validação.
Han também aborda a natureza da atenção na era digital, argumentando que a constante distração e fragmentação da atenção prejudicam nossa capacidade de reflexão profunda e foco, afetando a produtividade e a qualidade das interações sociais.
A sociedade digital é caracterizada pela excessiva produção de informação e pela falta de tempo para reflexão e contemplação.
O autor também discute a cultura do “eu” nas redes sociais, a pressão para a autootimização e autorrealização e como isso pode levar à solidão e à depressão.
Notas de interesse para refletir
Sociedade da indignação
“As ondas de indignação são eficientes em mobilizar e compactar a atenção. Por causa de sua fluidez e volatilidade elas não são, porém, apropriadas para organizar o discurso público, a esfera pública. Elas são incontroláveis, incalculáveis, inconstantes, efêmeras e amorfas demais para tanto. Elas se inflam repentinamente e se desfazem de maneira igualmente rápida.”, “…Falta a elas a estabilidade, a constância e continuidade que seriam indispensáveis para o discurso público. Desse modo, elas não e deixam integrar em uma unidade discursiva”
A indignação digital é um estado afetivo que “não desenvolve nenhuma força com o poder da ação”. “Não gera nenhum futuro.”
No enxame
Os paradigmas colectivos do movimento são efímeros e instáveis, voláteis, parecem lúdicos, descompromissados. A massa é poder, mas os enxames não marcham, ao ser efêmeros não desenvolvem nenhuma energia política.
“O discurso de classe só faz sentido no interior de uma pluralidade de classes. A multidão, porém, é uma classe única.”
O sujeito produtivo de hoje é ofensor e vítima, a lógica da autoexploração é mais eficiente do que a exploração alheia. “
Ninguém domina verdadeiramente no Império. Ele re- presenta o sistema capitalista ele mesmo, que se estende a todos. Assim, é possível, hoje, uma exploração sem dominação.
O sujeito econômico neoliberal não for- ma nenhum ‘Nós’ capaz de um agir conjunto. A egotização crescente e a atomização da sociedade leva a que os espaços para o agir conjunto encolham radicalmente e impede, assim, a formação de um contrapoder que pudesse efetivamente colocar em questão a ordem capitalista.”
Desmediatização
Não existe mediação, todos somos produtores e consumidores ao mesmo tempo. “A transparência total força a comunicação política a uma temporalidade que torna impossível um planejamento lento e de longo prazo. Não é mais possível deixar que as coisas amadureçam. O futuro não é a temporalidade da transparência. A transparência é dominada pela presença e pelo presente. Sob a ditadura da transparência, opiniões desviantes ou ideais inabituais não chegam nem mesmo a ter voz.”
O Hans Esperto
O “smartphone funciona como um espelho digital para a nova versão pós-infantil do estágio do espelho. Ele abre um espaço narcísico, uma esfera do imaginário na qual eu me tranco. Por meio do smartphone o outro não fala.”
Fuga na imagem
As imagens apresentam uma realidad otimizada para o consumo, aniquilam o seu valor original, são domesticadas ao serem tornadas consumíveis retirando-as de sua verdade.
Do agir ao passar de dedos
Somos livres das máquina da revolução industrial que “nos exploravam, mas os aparatos digitais produzem uma nova coação, uma nova exploração. Eles nos exploram ainda mais eficientemente na medida em que eles, por causa de sua mobilidade, transformam todo lugar em um local de trabalho e todo o tempo em tempo de trabalho. “
“A liberdade da mobilidade se inverte na coação fatal de ter de trabalhar em todo lugar. Na era das máquinas, o trabalho, simplesmente por causa da imobilidade das máquinas, era delimitável em relação ao não traba-lho. O local de trabalho, ao qual era preciso se dirigir por conta própria, se deixava separar claramente dos espaços de não trabalho.”
Do sujeito ao projeto
“Na forma do desempenho, da auto-otimização e da autoexploração”, a desejada liberdade provoca coações. “O sujeito de desempenho se explora a sim mesmo até ruir”.
Psicopolítica
O biopoder de Foucault é a “explosão de técnicas numerosas e diversas para obter a subjugação dos corpos e o controle de populações” (Wikipedia, n.d.), como por exemplo o controle, a vigilancia ou a organização das forças. O psicopoder vai além, com auxílio da vigilância digital procura ler e controlar os pensamentos, intervir nos processos psicológicos. Análises como o big data “da a conhecer modelos de comportamentos que também tornam prognósticos possíveis”, no lugar de criar modelos teóricos, a “correlação substitui a causalidade”. Junto com o data mining tornam acessível o inconsciente-coletivo, permitindo à “psicopolítica se empoderar do comportamiento social das massas ao acessar a sua lógica consciente”.
Esses são alguns dos pontos que me interessaram do texto, e você, tem algum outro que faltou? Fique a vontade de deixar nos comentários.
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Rio de Janeiro: Vozes, 2018. 134 p. ISBN 9788532658517.